O ano era 1996 e eu lecionava informática básica no SENAC em Aracaju/SE, Brasil. Eram turmas iniciantes e naquele período, informática ainda era um monstro muito temido, algo que “Só os gênios conseguem”ou mesmo, “Eu nunca vou conseguir utilizar essa coisa”. Eram dias difíceis, mas ao mesmo tempo muito gratificantes. “Vocês ensinam futuro!” dizia um aluno mais idoso que tínhamos por lá. Eram contextos diferentes, situações diferentes. A internet estava ainda aportando o seu navio nos nossos portos e era outro monstro a ser caçado, o time a ser batido.
Nós éramos os privilegiados, os professores que detinham o conhecimento e faziam de tudo para compartilhar com os alunos. Buscávamos individualizar o aprendizado, mesmo com uma sala de 20 ou 30 alunos. “Cada um tem um jeito de aprender” ouvia eu, nas nossas reuniões semanais. E sim, descobríamos a cada dia que a tecnologia seria um grande aliado e que a velocidade do aprendizado não acompanharia a velocidade das atualizações. A cada dia, uma nova ideia, um novo programa, um novo processador.
Mas o tempo passou e fomos aprendendo ainda mais, a internet passou a ser uma companheira e não mais uma novidade. Aprendíamos novidades, ensinávamos novos caminhos, entretanto, era o aluno que nos deixava ainda melhores. A experiência pessoal norteava o aprendizado. Mostrávamos que a inovação estaria ali, quando ele passasse a usar o computador para fazer uma tarefa que ele jamais faria sem aquela ferramenta. O aprendizado ganhou importância.
Se saltarmos no tempo até a pandemia, veremos o quanto ganhamos tempo com a tecnologia e quanto perdemos tempo sem ter pernas para acompanha-la. Os professores se distanciaram uns dos outros, como se dividíssemos em uma espécie de “com tecnologia X sem tecnologia”, claro, ainda haviam os reticentes. Mas o contexto mudou, as aulas virtuais, as lives, as transmissões ao vivo, as reuniões em tempo real de dentro do carro, em casa, no quarto. Enfim, tivemos que aprender a reaprender. E saber que não podemos ensinar da mesma forma que aprendemos. É saber usar o BigData e transformar as aulas em indicadores de aprendizagem, construir uma cultura digital como se trocássemos o pneu com o carro andando. É reconstruir a construção sem quebrar as paredes e sim, quebrar os paradigmas do que já se perdeu com o tempo.